capítulo 8: COMPROMISSOS SOCIAIS

Publicado: 5 agosto 2010 em Uma História Tóxica

Serenidade é o quanto querem, é o quanto esperam de você. Isso é uma viagem, uma confusão. Usam como exemplo de serenidade aquele jota cristo que você tanto menciona e sabe muito bem que eu não acredito que tenha sido nada mais que um homem. Ele é falado como o sujeito que dá a outra face, e esquecem-se sempre da parte que eu gosto: o quente ou o frio, o morno eu vomito. Esse cara, esse teu exemplo de serenidade expulsou os vendilhões do templo, aos gritos e chibatadas, não foi? Cuidado, então, quando fica disseminando essa ideia bonitinha morninha moderninha de serenidade.

Eu queria ter visto serenidade em George W. Bush em vez de discursar ao pé das torres com uma jaqueta da aeronáutica e declarar guerra.

E também queria ter visto reação, de muitas pessoas, em muitos momentos. Serenidade pode fazer a diferença, mas será que não faz parte do conceito de serenidade a reação violenta, agressiva, massiva? Dê-me uma montanha de calma, tranquilidade e serenidade e eu te darei um lindo jantar de pessoas simpáticas com cabelinhos aparados, roupas largas e comendo frango assado. Pudim de sobremesa. Se isso é tudo que você espera da sua vida, vá em frente, bastante calma, na paz… vá pela sombra.

Não é o que me interessa. Eu quero correr riscos. Eu serei o sujeito que levantou a voz e disse aquilo que estava contido na garganta de muitos. Não sou revolucionário e nem líder de porra nenhuma, eu só não aceito me calar. Cale-se você, se quiser, Vini.

Seja mais um dos caras que acham que a vida é apenas esse intervalo mais ou menos chato entre o banho da manhã e a próxima dose de Rivotril.

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A não ser que você viva em uma caverna e isolado da civilização, já passou por isso. Tivemos uma conversa antes. Ela disse que essa ia ser nossa primeira DR, e aí você imagina a minha cara. Eu já tinha discutido isso antes, com outras mulheres, mas cada situação é uma situação. “Eu acho que devo te apresentar da maneira que você quer ser apresentada. Só isso.”. Ela achou que era um critério razoável. Tinha um problema, mesmo assim: se um diz que quer ser apresentado como marido ou mulher, não dá pra apresentar o outro como namorado. É só uma apresentação, não podemos obrigar as outras pessoas a jogar xadrez, afinal. Decidido, namorada, namorado, fechado. E sem esconder que moramos juntos, esconder pra quê?

Foi assim que fomos para o nosso primeiro compromisso social. Nada de especial, só um pretexto para comer, beber e dar risada num sábado à noite. O apartamento do Caio também era na zona sul, resolvemos ir a pé. Eu ainda me surpreendo quando mulheres têm aquelas reações típicas de mulheres. Foi engraçado, eu ali de jeans e camiseta, pronto pra sair, e ela que não decidia a roupa, toda ansiosa, como se fosse um grande evento. Enlouqueça uma mulher: quando ela chegar vestida e perguntar se uma roupa está boa, demore pra responder. Pronto. Depois de hesitar um tempo pode responder o que quiser, ela não vai acreditar. E não vai mais sair com aquela roupa. Você nunca brincou disso? Atrasa um pouco o passeio, mas é engraçado. “Todo mundo lá é mais ou menos da minha idade. Coloca a roupa que você usaria pra ir visitar uma tia, está tudo certo!”. Carinha de brava. Brava só de fazer tipo. Quanta onda pra acabar vestindo o que eu já sabia: uma sainha curta e uma blusinha apertada, sem soutien. “Tá linda, um tesão, Milla. Um pouco com cara de vagabunda, mas qualquer coisa avenida Atlântica tá aí do lado.”. Era o tipo de brincadeira que agora ela curtia. Sorria, fazia aquele olhar safado; eu gostava e ela também.

Parei no seu olhar garota não sei muito bem o que é que está acontecendo estou gostando muito dessa intensidade da velocidade da direção do sentido principalmente de todas essas curvas e os pingos nos is.

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Um dia eu ainda vou dar um curso. Se bem que já deve ter algum tipo de personal fazendo isso. A Milla disse depois que nunca tinha reparado especialmente nessas coisas. Que já tinha reparado, claro, mas que não ficava guardando os dados para registro, que nem eu faço. Agora ela faz também, virou uma brincadeira nossa. Mulheres que vestem a roupa errada. Pra falar a verdade, mulheres que saem com a calcinha errada, esse era o nosso foco. Que não estivesse caindo bem com a roupa ou que não estivesse caindo bem com o corpo mesmo. Algumas vezes aconteciam as duas coisas. Se você começar a reparar, também vai dar risada. Observe bem quantas calcinhas erradas não estragam uma noite que prometia tanto. Uma amiga me disse que nunca reparou nisso, porém achava que cuecas brancas podiam estragar uma noite, sim. Anotei. Minha especialização é nas calcinhas.

Ela também tomou whisky naquela noite. Eu levei um Jack Daniel’s, pra variar; eu sabia que o Caio estava naquela vibe de vinhos, era melhor levar meu whisky. Devia dizer whiskey, nesse caso. Expliquei pra Milla que o Jack Daniel’s era um Tennessee e que por acaso era muito melhor que o Jim Beam, que era um Kentucky. Em casa experimentamos os dois, e ainda o Wild Turkey, outro Kentucky, mas bom. Falar sobre whisky e tomar, isso sim é que é dar aula. Principalmente com a companhia certa. Sabe, ela estava muito companhia certa, acho que cada vez mais.

Eu sou um maldito egoísta. Mas tenho certeza que gosto muito mais de mim quando estou com a Milla.

As calcinhas. Então. Nem me venha com a conversa que calcinha tem que ser é confortável. Sem essa. Calcinha confortável é pra fim de semana no sitio, não pra sair à noite. E tem mais, estamos no Rio de Janeiro. No Rio não se respira dinheiro, como em São Paulo. No Rio se respira praia, sexo, corpo saudável, bonito, um boteco no fim do dia e, sem falta, no fim de semana. Então o conforto fica pra Petrópolis e aqui a gente discute o que é que cada calcinha veio dizer. Fizemos uma listinha do que é que as calcinhas tinham vindo dizer, as das mulheres que estavam na casa do Caio. A Milla riu muito com isso, quis ficar nessa brincadeira muito tempo. Eu fiquei só constatando o quanto uma mulher de 21 pode ser cruel com as suas coleguinhas de 40. Muito cruel. Foi uma maneira dela se sentir muito melhor que todas as outras ali. Bem… as feias que me perdoem, não é isso, Vini… cius?

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“Vem cá, meu vício, chega de whisky e whiskey. O gosto que eu quero sentir agora é o teu.”. Sabe quando você diz isso, e você quer mesmo dizer isso? Então. E sabe quando você percebe que a mulher tem o mesmo tesão? Não sei quanta gente sabe como é bom e louco e cheio de possibilidades você poder dizer que aquela mulher com quem você dorme, com quem você vive, é a mulher que mais te deu tesão em toda a puta da vida. E daí, me fala, quantos homens afirmam isso com segurança, beijam essa mulher e continuam sempre com vontade desse beijo? Fazer sexo oral de ficar molhado, suado, cansado, de olhos fechados, e um se acabar na boca do outro, e depois, ainda, uma boca procurar a outra, pra beijar mais, mais um pouco. Foi assim. Não, sempre é assim.

Foi depois e no meio de um desses beijos que ela parou pra me perguntar. Tão mulher, evitando ser menina, levantou o tronco pra olhar nos meus olhos e ficar esperando a resposta.

“Me  fala uma coisa… por que você me chama de garota?”. Ah, se ela soubesse que quando ela passa… acho que eu pensei nisso quando ela perguntou, devo ter olhado pra cima, pro nada. Depois olhei bem nos olhos dela. Mostrei a língua. “Porque você é uma pirralha, por isso.”

comentários
  1. Gabi disse:

    O Sérgio é daqueles homens que vc morre de raiva e tem aquele tesão louco

  2. Gabi disse:

    sei la kkk
    gostei do ultimo capitulo, gosto mais do sergio
    eu queria dar pra ele
    e nao ver ele nunca mais

  3. Aline Valek disse:

    Depois de anoooos sem ler a continuação da história, olha eu aqui (ooops)…
    Sabe que não sinto mais tanta repulsa pelo Sérgio? Essa linguinha no final, chamando ela de pirralha, super infantil, foi meigo.
    Tbm adorei a história da análise das calcinhas. A Milla podia fazer uma análise sobre a cueca certa tbm… haha
    Agora, o Sérgio consegue ser pedante quando é pra falar dessas coisas de… adulto (pra não dizer velho)… Degustação de whiskey, puta que pariu.
    Agora, te contar que esse início reli umas 3 vezes. Texto sensacional. Coisa pra refletir, levar pra vida mesmo. Foi o efeito que surtiu em mim, pelo menos. Fiquei pensando que tbm preciso assumir mais riscos. Se não a vida vira esse intervalo morno (e o morno será vomitado) entre o café da manhã e o banho antes de dormir (é, ainda não tomo rivotril).

    Grandes beijos

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